7.12.06

Inspector Carvalho


A noite no Casino não estava especialmente animada. Os suspeitos do costume, a maioria com as amantes do costume, que Eva e eu já conhecíamos de outros carnavais.

A conversa decorria calmamente ao sabor de um conhaque. Nenhum de nós jogava. Íamos ali porque era o ponto de encontro da “fauna” da região. Eu preferia ambientes mais descontraídos mas ela adorava encontrar as figuras que, por não poderem voltar para as suas cadeiras do poder, por cá tinham ficado. Eva conhecia-os todos e adorava o meio. Talvez por um espírito de solidariedade algo mórbido.

Havia um pouco de tudo. De empresários a políticos, passando por tipos como eu que não eram uma coisa nem outra e não queriam ser coisíssima nenhuma a não ser anónimos e, claro, a PIDE que velava pela “segurança” de todos.

O Inspector Carvalho era quase “mobília da casa” dando a ideia que fazia do Casino o seu posto de guarda à Nação. A sua especialidade era o “mexerico”. Andava de mesa em mesa entabulando conversas de circunstância. Toda a gente o “aturava” e isso fazia-o sentir-se importante. A mim divertia-me. Provavelmente porque sem dar por isso acabava por ser ele a dar-me mais novidades do que eu a ele. Por outro lado era o tipo de amizade que dava muito jeito ter.

Conhecera-o quando me abordara a respeito de um amigo inglês, Steve Gordon, dos tempos que passara a estudar em Etan. Steve pertencia aos serviços de informação britânicos e o Sr. Inspector queria saber mais sobre ele. A partir do momento em que soube que éramos amigos dos tempos de liceu não me largou durante uns tempos. Ficou na mesma mas tornámo-nos “amigos”. Fazia-lhe confusão a minha vida, a minha fonte de rendimentos, quase toda na Suiça, e não punha de parte a possibilidade de as minhas amizades terem algo a ver com isso. Como a fuga de capitais era crime na altura eu não lhe poderia contar o que o poderia sossegar. Isso fazia-o ser uma presença regular na minha companhia, tendo até já sido convidado para um jantar em sua casa.

Como fui sozinho desatou a fazer perguntas sobre Eva, outra personagem que também o fascinava. As relações dela com a aristocracia exilada bem como com as figuras do regime, desde empresários a políticos fazia-lhe confusão. Mais tarde acabou por arranjar maneira de estabelecer alguma amizade entre ela e a sua esposa, Herminia de seu nome. Pobre inspector. Se soubesse metade da história não o teria feito… adiante.

Nessa noite, como de costume, apareceu e dirigiu-se à nossa mesa.

5 comentários:

Anónimo disse...

Vim aqui te desejar um final de semana repleto de coisas boas. Saúde, amor e paz!
Atualizei o Decifra-me. Hoje o post é sobre mim, precisamente sobre a minha história. Passa lá pra conferir!
Beijo no coração...

“Decifra-me... ou devoro-te... Arrisque-se se for capaz.”

Fúria das Águas disse...

Oi menino, vim te desejar um ótimo fim de semana.
Beijos fica bem
Furia

Tata disse...

era um mundo que se perdeu e levou os cavalheiros com ele!

® Jasmin disse...

Tarde e a más horas, mas vim!
Mil desculpas, meu caro!
Contudo, adorei esta tua nova fase e estilo de escrita!
Prometo acompanhar atentamente! Vamos a ver como a Evinha se dá com a Adão!!

beijo doce

PS: já tinha saudades tuas!

Anónimo disse...

rss... a notícia no "Polícia de Costumes" está ótima! Quer dizer que a multa aumentava conforme a situação contra a moral? "Com a língua naquilo", além do infrator pagar multa pesada, ía preso e fotografado. Mas, em flagrante ou esperavam terminar? rss...
Bom, quero acompanhar a história do Inspetor. Creio que a Eva vai aprontar alguma bem cabeluda.
Adorei!
Beijos