27.11.06

Introdução


Às vezes, sentado nesta poltrona por detrás da janela de onde se avista ainda uma nesga de Tejo, recordo… o tempo em que Lisboa era mais igual a si mesma. Essa Lisboa que tinha passado pela guerra sem perder a compostura. Na verdade, acho que até ficou mais interessante nessa altura. Ao servir de plataforma para o exílio dos refugiados de uma Europa em guerra, bem como de “campo de jogos” da espionagem mundial, Lisboa tornou-se cosmopolita, absorveu novos costumes, novas liberdades, novas maneiras de ser, estar e pensar. Nunca mais seria a mesma. Ao contrário do cidadão comum, a sociedade Lisboeta fervilhava, embora “com a panela tapada” para não dar muito nas vistas. Era o tempo em que tudo era permitido desde que não se soubesse. Os espiões já se tinham ido, muitos dos refugiados também, excepto aqueles que preferiram o Sol de Portugal à Europa do pós-guerra. A vida era feita entre a cidade e Cascais, com passagem obrigatória pelo Casino.

Para alguém como eu era o paraíso. Uma fortuna confortável, ninguém a quem prestar contas, toda a disponibilidade do mundo, e uma mente aberta. A combinação certa para tornar mais interessante a minha vida e a de pessoas descontentes com as delas.

São algumas dessas vivências que vou partilhar aqui.

3 comentários:

Fada Safada disse...

... e eu virei visitar-te, saborear a tua nostalgia.
Que delícia de texto, amigo.

Beijos da
Fada Safada

Helena disse...

Lindíssimo! O texto, a ambiência e o Coltrane então.....aiiiii....
Acho que entraste aqui num universo muito especial. Parabéns! Como sabes, volto sempre.
Beijos muito querosianos ;)

Anónimo disse...

é sempre bom viver as recordações.