3.9.07

Revelação


A tarde passou-se calma mas com uma tensão no ar. Por alguma razão achei que a nossa "amiga" começava a ver a vida com outros olhos. Pelo menos a mim. Tive a sensação que aquele assunto não ficaria por ali.

A Marginal estava linda nesse final de tarde. Fui desfiando pensamentos e quando me apercebi estava a chegar a Lisboa. Ia jantar com "Steve" a convite do próprio. Ligara-me no dia anterior e parecia ter algo para falar comigo.

O Hotel "Avis" tinha sido o centro da placa giratória em que Lisboa se tornara durante a guerra. Por alguma razão, quando ele tinha algum assunto mais sério gostava de lá ir. Acho que o fazia incorporar os agentes que durante a guerra frequentavam aqueles salões. Não tendo a "vida" de outros tempos, continuava majestático e com uma óptima cozinha. Steve estava à minha espera quando cheguei. Depois dos cumprimentos habituais pedi um Gin.

Steve estava bem disposto mas parecia apreensivo.

- Sabes que andas a ser vigiado?

- ...

- Hoje tiveste companhia durante toda a tarde. Não deste por isso?

- Quem? A "PIDE"?

- Sim...

- Pelo visto não foram só eles...

- Estou preocupado contigo!...

- Deviam andar a vigiar a mulher do "chefe". Ela esteve hoje em casa da "Eva".

- ...

- São boas amigas. Eu estava lá quando ela chegou. Passou o tempo a tentar saber mais a meu respeito.

- Eles seguiram-te a tí, não a ela. Pelo menos no regresso. Provavelmente estão a vigiar a casa de "Eva".

- Para quê?

- Lembras-te do assunto que o "Carvalho" abordou contigo? Acho que tem algo a ver com isso. Ele suspeita de que ela está envolvida... ou vai estar.

- Vais contar-me de uma vez o que se passa?

- Já sei um pouco mais sobre o assunto. Vou contar-te porque podemos precisar da tua ajuda.

- Nada como um bom motivo...

- Normalmente o que não sabes não te pode afectar. Não é o caso. O teu relacionamento com a hungara pode envolver-te sem dares por isso. Acho que, para tua protecção deves estar a par.

- A tua preocupação comove-me. Há uns dias não sabias de nada...

- Tive que contactar Londres para conseguir autorização.

- A tua confiança em mim deixa-me...

- Não se trata de confiança. Para te envolver precisava de autorização. Vamos jantar?

A sala de jantar estava quase deserta excepto um casal que jantava calmamente num recanto discreto. Reconheci um banqueiro da nossa praça mas a esposa tinha rejuvenescido uns vinte anos desde a última vez que a vira. A minha discrição fez-me ignorá-lo.

- Tens noção da quase paranóia dos nazis por reliquias antigas?

- Vagamente...

- Durante a segunda guerra andaram à procura de reliquias em quase todo o mundo. "Himmler" era um louco por "reliquias" que supostamente dariam poder a quem as tivesse. a "Arca da Aliança", a lança que trespassou "Cristo", o "Graal", etc. Para além de tudo o que provasse a influência "ariana" nas grandes civilizações. Chegou a defender que a Grécia antiga descendia de tribos arianas.

- ...

- Desde sempre houve alguém a quem se atribuiram a posse desse tipo de "reliquias". A "Ordem do Templo". Quando a "Ordem" foi dissolvida nada disso foi encontrado. Há quem defenda que a haver alguma coisa estará em Inglaterra, para onde uma parte dos cavaleiros fugiu á captura. No entanto, um pormenor interessante tem sido descurado e não deixou de chamar a atenção dos nossos amigos.

- Continua. É um tema interessante.

- Os "Templários" sempre tiveram grandes ligações a Portugal. Já cá estavam quando o País se tornou independente, ajudaram no processo e na própria "reconquista". Desde sempre os seus "mestres" foram pessoas de confiança dos reis portugueses. Aquando da extinção da ordem, o vosso rei "Dinis", concedeu-lhes abrigo, enfrentando o Papado, protegeu os seus bens, acabando por formar uma outra ordem para os integrar: A "Ordem de Cristo" que entre outras coisas, foi a principal impulsionadora da expanção marítima portuguesa.

- Lição de história para o jantar...

- A verdade é que os nossos amigos alemães consideraram, não sei com que bases, que algo do que procuravam podia estar por aqui.

- Há algum nexo nisso? Qual o interesse real deles?

- Supostamente algumas dessas reliquias tornálos-iam invencíveis...

- Os americanos e os russos já o fizeram: Chama-se "Bomba Atómica".

- Não sejas sarcástico! Estou a falar de artefactos que a humanidade procura há séculos, e que podem muito bem estar aqui.

- É disso que andam à procura?

- Quando a guerra acabou estava uma equipa a fazer escavações em "Tomar". Não se sabe o que encontraram. Sabe-se que desapareceram tal como muitos agentes alemães e que os sitios foram "entulhados".

- O que se passa na realidade?

- Anda muita gente à procura de um homem, supostamente o lider dessa equipa. "Franz Gerhart".

- Não me digas que é o centro desta agitação toda.

- Exactamente. Todos querem saber, não só o que ele encontrou mas onde está, principalmente agora que se fala que está a tentar fugir.

- Para onde?

- Não se sabe. Só se sabe que essa pista pode levar a criminosos nazis procurados.

- Que tenho eu a ver com isso?

- Nada. Mas estando a par sempre podes abrir mais os olhos... nunca se sabe.

O "Carvalho" tem razão em relação aos "hungaros". Pensamos que estão cá pelo mesmo. Simplesmente a linha soviética não lhes "permite" interessarem-se publicamente por estes assuntos. É por isso que estão a trabalhar fora da embaixada.

- Estou devidamente elucidado. O que é que posso dizer ao "Carvalho"? Só para o descansar?

- Não há nada desta conversa que ele não saiba. Podes dizer-lhe que anda tudo à procura de um nazi.

- Assim trabalho "a bem da Nação" e não me queimo muito. Gosto.

O resto do jantar decorreu calmamente, embora, já um pouco alerta, tenha reparado numa presença estranha no bar, a ler o jornal. Steve sorriu mas não fez comentários.


21.8.07

Dna. Hermínia 2

Não levou muito tempo para a oportunidade aparecer. No dia combinado apareci "por acaso".
Quando ela apareceu estávamos os dois deitados à beira da piscina a beber o Gin do costume. Pareceu pouco à vontade por me ver ali mas Eva tratou disso rápidamente.
- Hermínia!... Como passou? Já viu quem cá está?
- Olá querida amiga... Boa tarde Sr. Ega. Como está? Já não o via há algum tempo... afazeres profissionais suponho...
- Podemos dizer que sim. Tenho estado no Alentejo. Tenho lá uma pequena propriedade e fui ver se ainda existia.
- O senhor é um poço de novidades. Tem mais alguma propriedade de que eu ainda não tenha ouvido falar?
- Não sei o que mais ouviu a meu respeito. Posso garantir que a maior parte são exageros. O meu amigo Carvalho tem passado bem?
- Trabalha muito. Por vezes passam-se dias em que não o vejo.
- Quem tem responsabilidades não dorme.
- Já o senhor...
- Gosto de dormir de dia, de preferência à beira da piscina.
Eva estava divertida a ver a amiga a tentar "tirar nabos da púcara", ao mesmo tempo que tentava "não reparar" nos meus calções, um pouco progressistas para um pais em que uma parte dos homens ainda ia à praia de fato completo.
- Não se quer juntar a nós? Posso emprestar-lhe um fato-de-banho.
- ...
- Coragem Dna. Hermínia. Posso garantir que a água está maravilhosa.
- Pois bem... seja.
- Vamos ver o que mais lhe agrada.
Eva levantou-se e conduziu-a para dentro. Dei-lhes algum avanço e segui-as entrando sem fazer barulho no quarto ao lado. Dentro do roupeiro, por detrás de um fato antigo situava-se o "posto de observação".
Eva procurava numa gaveta um fato de banho que pudesse servir à outra, ligeiramente mais encorpada. Ela estava parada, a observar. Depois de encontrar o que queria, Eva aproximou-se e começou a despí-la enquanto lhe dava um breve beijo nos lábios. Depois de lhe retirar a camisa e a camisola deu a volta e foi desapertar-lhe o corpete. Ela estava de costas para mim mas eu via pelo espelho da parede.
Quando o "instrumento de tortura" foi retirado, pude admirar um peito muitissimo interessante. Eva não conseguiu deixar de afagar-lhe os seios, rodando os bicos entre os dedos. A cabeça dela descaiu um pouco para trás, disfrutando do "carinho". Não demorando muito até a despir completamente, Eva sentou-a na cama e empurrou-lhe o torso para trás. Ela ficou com os pés suspensos, de braços abertos em cima da enorme cama. Uma verdadeira "balzaquiana".
Eva beijou-a intensamente, desceu pelo pescoço até aos mamilos que mordeu suavemente. A outra já tinha a mão no meio das suas pernas, o que fez os meus calções aumentarem imediatamente de volume. Os beijos dela foram descendo até chegar ao farto triângulo onde encontrou alguma resistência. Passou a lingua pela perna até ao joelho. Quando tornou a subir, as pernas abriram-se com facilidade. Eva dirigiu para lá a lingua.
Os gemidos dela ouviam-se perfeitamente e foram aumentando de intensidade até se vir com um grito reprimido. Infelizmente o espelho não me dava a visão completa mas eu podia imaginar. Ficaram as duas em cima da cama.
- Temos que ir. Daqui a pouco ele vai notar...
- Não te preocupes. O Carlos é muito discreto.
- Quem é ele na realidade?
- Um bom amigo.
- Que tipo de amigo?
- O tipo de amigo que nos faz o que acabei de te fazer.
- Os homens também fazem isso?
- Nunca te tinham feito?
- Não. Também só conheci um, e esse é normal. Faz o que tem a fazer e pronto.
- E tu? Nunca fizeste?
- Eu não. Que nojo!
- Devias experimentar. É bem bom e eles adoram, tal como nós.
- O meu marido não deixaria. Uma senhora não deve fazer essas coisas.
- E o que estivemos aqui a fazer? pode-se?
- ...
- Veste o fato-de-banho. Ainda vais ter muito que aprender.
Fiz uma retirada estratégica para a piscina. Quando elas chegaram pareceu-me que a amiga olhava para mim doutra maneira.

6.8.07

Dna. Herminia

Gostava da noite de Lisboa naquela altura. De onde me encontrava apenas ouvia um ou outro eléctrico, ou um carro que passava na rua ao fundo. Continuava intrigado com aquela história toda.
Da associação de ideias com o "amigo" inspector veio a recordação da senhora sua esposa.
Herminia era uma mulher muito interessante debaixo da imagem austera que tinha que ostentar a bem da Nação. Encontrara Carvalho no tempo em que ele era policia de giro e ela criada, ainda antes da guerra. Da velha história de "amor" entre o policia e a criada de servir saiu aquele lindo parzinho. Carvalho era ambicioso e ela fazia-o sentir-se ainda mais. Até à entrada na PIDE foi um instante. Isso permitia-lhe ganhar mais e ter outro estatuto. Como ela gostava disso... mais até do que dele. Só faltava que lhe chamassem Sra. Inspectora.
Eva Kopashi foi uma benção para aquela senhora. Tinha tudo o que ela não tinha e gostaria de ter. Era rica, sofisticada, educada, tinha uma vida que ela não poderia sequer imaginar... e era viúva.
Com a benção do marido, Herminia começou a viver através dela tudo aquilo que não tinha, mesmo o que ela nem sabia que lhe faltava. Da piscina da casa de Eva até à cama da Eva foi um instante. Bastou um dia, e a propósito de uma conversa "mais marota", Eva a ter incentivado a experimentar a sua lingerie. A "maldade" da hungara e a sofreguidão da outra por coisas novas fizeram o resto.
Fiquei sem palavras quando me contou o que se passava. Bastou fingir que não acreditava para ser convidado a ver com os meus olhos.
A casa de Eva encerrava inumeros segredos sendo que um deles era um armário embutido e disfarçado com um pequeno orifício de onde o "finado" a observava a divertir-se com amigos de ocasião, provavelmente comigo... de qualquer modo, era algo encorajado por ele que tinha a noção que a diferença de idades a certa altura torna-se complicada, e pelo menos assim detinha o controle da situação. Tornou-se um "voyeur" de primeira.
Dessa vez eu iria fazer esse papel.

27.12.06

Steve


O ar quente da noite de Verão que me batia na cara, à medida que o carro avançava pela estrada do Guincho, não conseguia limpar da minha cabeça a conversa com o inspector. Onde quereria ele chegar? Carvalho não era pessoa para falar de coisas sérias por acaso, e não me parecia que nos quisesse envolver em qualquer tipo de investigação. Só me ocorria a possibilidade de achar que poderíamos estar envolvidos em algo e estar a “atirar o barro à parede”. Ele era o tipo de pessoa que dizia coisas só para observar a reacção. Eu conhecia o método. Usava-o amiúde. A referência a “Steve” também não foi inocente. Ele devia saber qualquer coisa. Tinha vontade de falar com ele mas não devia, de momento, ser visto na sua companhia. Se ele estivesse realmente envolvido em algo devia estar a ser vigiado pela PIDE. Se, logo após a conversa com o Carvalho, fosse visto na sua companhia, isso só serviria para levantar suspeitas na minha direcção.

No dia seguinte telefonar-lhe-ia convidando-o a vir almoçar comigo. Vindo por Sintra não daria nas vistas e poderia ver se tinha “acompanhante” pelo caminho. Por agora só queria chegar a casa, e dar um mergulho na piscina. Sempre gostei de um mergulho nocturno. Mesmo sozinho.

Afinal Steve estava em Londres na altura. Chegaria uns dias depois. Ligou-me passados três dias a dizer que viria no dia seguinte. Fui esperá-lo ao Aeroporto e fomos almoçar ao “Tavares”. Ao ir ao aeroporto mostrava que não tinha nada a esconder o que era sempre bom. Podia ser que até encontrássemos o Sr. Inspector. Podia demonstrar o meu amor à Nação dando-lhe a entender que estava a fazer o que me pedira.

O almoço decorreu cordial. Steve contara-me as novidades de Londres. Tudo aquilo recordava-me uma altura feliz, antes da guerra, em que deixara de viver aquele Portugal e vira o mundo. Ainda lá ia de vez em quando, principalmente para fazer compras. Steve adorou o meu carro novo. Não se viam muitos, mesmo lá, por causa da crise do pós-guerra. Quase toda a produção ia para ao Estados Unidos. Eu sabia o trabalho que tinha tido para arranjar um.

A certa altura decidi abordar o assunto:

- Estive com o Carvalho.

- O nosso amigo Inspector? Como é que ele está?

- Enigmático. Veio com uma conversa sobre húngaros que têm chegado a Portugal sem se saber quem são nem ao que vêm… Da sua conversa achei que poderias saber alguma coisa…

- Eu? Porquê?

- Perguntou-me se tínhamos falado no assunto…

- Não percebo porquê…

- Ok.

O silêncio instalou-se. Já depois do café, Steve voltou à carga:

- O que é que ele te disse?

- Não muito mais do que já te disse. Vais manter-me às escuras ou vais contar-me o que se passa? Pelos vistos vocês têm trabalhado no assunto.

- Pareces muito interessado…

- Sou um bisbilhoteiro. Gosto de assistir a estas coisas como quem vê uma partida de “Golf”. Para isso preciso de saber quem são os jogadores e em que buraco estão. Até porque suspeito que o nosso amigo acha-me a par do assunto. Já que tenho a fama…

- Disseste que ele estava enigmático. Deve ter-te dito alguma coisa…

- Só que havia húngaros e alemães que se tinham juntado aos russos e que podiam estar a entrar cá a coberto do “Nicholas Horty”.

- Para quê?

- Esperava que me contasses… Afinal estamos aqui a desconversar.

- Eles andam à procura de qualquer coisa, ou de alguém. A única coisa que sabemos é que a Embaixada Soviética não está a par do assunto. Só têm instruções para prestar ajuda se ela for solicitada.

- Então o Carvalho sempre tem razão…

- E deve saber mais do que isso. É tudo quanto sei, de momento. Não te metas nisto. O assunto pode queimar.

Voltei para a casa das “Janelas Verdes” com a ideia de que todos sabem mais do que dizem, embora achasse que Steve só queria proteger-me.

12.12.06

Inspector Carvalho 2

- Olha se não é o nosso amigo inspector Carvalho. Boa noite! Como passa o amigo?

- Boa noite Sr. Carlos da Ega, bem muito obrigado graças a Deus. E o amigo? À algum tempo que não o via. Mme. Kopashi, como está?

- Muito bem, obrigado. Faça o favor de se sentar e fazer-nos companhia. E a Sra. Dna. Hermínia, como vai?

- Muito bem obrigado. Tem perguntado por si.

- Um destes dias vou visitá-la.

- Ainda bem que os encontro juntos porque há um assunto que gostaria de falar com ambos…

- Sempre a trabalhar Inspector. O bem-estar da Nação não lhe dá descanso. Mas diga! Não se acanhe.

- Julgo que ambos conhecem o Alm. “Horty”…

- Eva é que o conhece. Eu apenas sei quem é. Continue…

- “Nicholas Horty” foi durante muitos anos regente do Pais da nossa amiga, desde a derrota da insurreição comunista de “Bela Kun” em 1919. Colaborou com “Hitler” mas acabou por ser preso. Com o fim da guerra foi libertado e está no Estoril desde 1948.

- Foi a minha ideia de poder durante toda a minha vida. Tinha uma relação próxima com o meu falecido marido enquanto vivemos na Hungria.

- Tem-no visto Mme. Kopashi?

- Apenas em público. Não nos últimos meses… A sua saúde não é a melhor tanto quanto sei…

O nosso amigo não dizia nada ao acaso. No entanto parecia ter alguma dificuldade em debater certos assuntos com Eva, embora pelos vistos necessitasse dela na conversa.

- É de facto um homem doente. No entanto preocupam-me mais as pessoas que gravitam à sua volta. Como calcula, durante o tempo da “colaboração” com os alemães, houve boas relações entre gente das duas partes, inclusivamente por causa da questão dos Judeus…

- …

- Não sei se sabe mas depois da guerra muita dessa gente passou a “trabalhar” para os Russos, tanto Húngaros como Alemães…

- E para cá Inspector, veio alguém?

- Felizmente, o nosso País esteve ao abrigo da maldita guerra graças à inteligência dos nossos governantes…

- É… de facto aqui não se passa nada. E desde que a guerra acabou, ainda menos.

- Como eu ia dizendo, têm chegado algumas pessoas que se juntaram ao Almirante. Gente que nós não temos a certeza ao que vem.

- A PIDE acha que podem estar a mando dos Russos? Pensava que esses vinham através da embaixada…

- Pode não ser o caso mas gostaríamos de ter a certeza.

- Em que é que o amigo acha que podemos ser úteis à Nação?

- De várias maneiras. A Mme. Kopashi podia eventualmente ter ouvido qualquer coisa dos seus compatriotas, algum comentário, bem como o amigo através do seu amigo “Steve Gordon”.

- Eu sou um humilde desempregado, inspector. Não me meto em politica. Porque é que não lhe pergunta directamente? As vossas relações são cordiais…

- São assuntos internos. Não vamos perguntar a opinião a um estrangeiro…

- Não podemos admitir que os Britânicos saibam melhor do que nós o que aqui se passa? Eu também não acho. No entanto se souber de alguma coisa, pode ficar descansado.

- Bom, vou retirar-me. Não os maço mais.

- A sua presença é sempre agradável Inspector. Tenha uma boa noite.

Sempre achei que o nosso amigo tinha a “mania da conspiração”. No entanto hoje tinha falado mais do que o costume e por iniciativa própria. Via-o a deambular pela sala e perguntava-me o que o teria levado a ter aquela conversa connosco. Acharia que tínhamos algo a ver com o assunto e estaria a avaliar? De certeza sabia mais do que tinha contado. Toda a gente sabia que os alemães que cá estavam durante a guerra não se tinham entregue, com a bênção das nossas autoridades.

7.12.06

Inspector Carvalho


A noite no Casino não estava especialmente animada. Os suspeitos do costume, a maioria com as amantes do costume, que Eva e eu já conhecíamos de outros carnavais.

A conversa decorria calmamente ao sabor de um conhaque. Nenhum de nós jogava. Íamos ali porque era o ponto de encontro da “fauna” da região. Eu preferia ambientes mais descontraídos mas ela adorava encontrar as figuras que, por não poderem voltar para as suas cadeiras do poder, por cá tinham ficado. Eva conhecia-os todos e adorava o meio. Talvez por um espírito de solidariedade algo mórbido.

Havia um pouco de tudo. De empresários a políticos, passando por tipos como eu que não eram uma coisa nem outra e não queriam ser coisíssima nenhuma a não ser anónimos e, claro, a PIDE que velava pela “segurança” de todos.

O Inspector Carvalho era quase “mobília da casa” dando a ideia que fazia do Casino o seu posto de guarda à Nação. A sua especialidade era o “mexerico”. Andava de mesa em mesa entabulando conversas de circunstância. Toda a gente o “aturava” e isso fazia-o sentir-se importante. A mim divertia-me. Provavelmente porque sem dar por isso acabava por ser ele a dar-me mais novidades do que eu a ele. Por outro lado era o tipo de amizade que dava muito jeito ter.

Conhecera-o quando me abordara a respeito de um amigo inglês, Steve Gordon, dos tempos que passara a estudar em Etan. Steve pertencia aos serviços de informação britânicos e o Sr. Inspector queria saber mais sobre ele. A partir do momento em que soube que éramos amigos dos tempos de liceu não me largou durante uns tempos. Ficou na mesma mas tornámo-nos “amigos”. Fazia-lhe confusão a minha vida, a minha fonte de rendimentos, quase toda na Suiça, e não punha de parte a possibilidade de as minhas amizades terem algo a ver com isso. Como a fuga de capitais era crime na altura eu não lhe poderia contar o que o poderia sossegar. Isso fazia-o ser uma presença regular na minha companhia, tendo até já sido convidado para um jantar em sua casa.

Como fui sozinho desatou a fazer perguntas sobre Eva, outra personagem que também o fascinava. As relações dela com a aristocracia exilada bem como com as figuras do regime, desde empresários a políticos fazia-lhe confusão. Mais tarde acabou por arranjar maneira de estabelecer alguma amizade entre ela e a sua esposa, Herminia de seu nome. Pobre inspector. Se soubesse metade da história não o teria feito… adiante.

Nessa noite, como de costume, apareceu e dirigiu-se à nossa mesa.

5.12.06

Eva Kopashi


Todos temos certos sítios onde nos sentimos especialmente bem. Também tinha os meus. Um deles era a pequena aldeia das “Azenhas do Mar”.

Sentia-me especialmente bem naquela noite, a saborear um cabrito assado, acompanhado com um maravilhoso tinto da zona na companhia de Eva. Tínhamos ficado a admirar o pôr do Sol, com o Atlântico aos pés, e agora jantávamos placidamente. A conversa decorria amena e cúmplice como acontece com os bons amigos.

Eva Kopashi, de nacionalidade húngara, viera para Portugal trazida pelos ventos da guerra. Viúva de um banqueiro, Vilmos Kopashi, com ele veio para Portugal para fugir à guerra que assolava a Europa. Vilmos, bastante mais velho, acabou por falecer pouco tempo depois do final da guerra, talvez com saudades da sua Budapeste que apenas tinha mudado de ocupante. Deixou Eva, amante do Sol de Portugal e já muito bem inserida na sociedade, numa posição confortável. “Amiga” de alguns dos mais influentes banqueiros da nossa praça, era-lhe fácil gerir a sua fortuna vivendo uma vida algo parecida com a minha. Tínhamos várias coisas em comum sendo que a mais importante era o facto de nos conhecermos demasiado bem para nos envolvermos. Independentemente da tesão que sentíamos um pelo outro.

Eva tinha a sua vida, eu tinha a minha, às vezes tínhamos a nossa. Por vezes era ela que me apresentava outras mulheres. Eu retribuía da mesma forma. Estávamos numa época em que as pessoas que interessavam não falavam com desconhecidos, então esta entreajuda era importante. Outra coisa que me agradava nela, considerando o facto de que pessoas normais não faziam certas coisas, pelo menos em tese, era o facto de nesse aspecto ela não ser uma pessoa normal… definitivamente. Fazia tudo o que lhe desse prazer sem quaisquer tabus. Era um tesouro a preservar e eu preservava proporcionando-lhe as coisas que os homens “normais” também não faziam.

Nessa tarde saí da piscina tal como me mandou. Ela seguiu-me, agarrou-me por detrás e começou a roçar-me os mamilos nas costas. Com uma mão cravou-me as unhas no peito e com a outra começou a masturbar-me, devagarinho para que eu “sofresse”. Forçou-me a avançar e fez-me sentar no muro que dava para o mar. Tentei agarrá-la, não me deixou. Olhando-me nos olhos baixou-se devagar, pegou no meu pénis completamente erecto e começou a chupá-lo meigamente. Ondas de prazer percorriam o meu corpo enquanto ela o engolia quase até à base. Quando viu que eu já não aguentava muito mais parou. Virou-se, não me deixando levantar. Fez menção de se sentar ao meu colo ao mesmo tempo que o agarrava e o dirigia para o ânus. Ficou a brincar com a cabeça à entrada, fazendo apenas uma ligeira pressão, até que ela entrou acompanhada de um ligeiro gritinho misto de prazer e dor. Pouco a pouco foi-o enfiando todo até ficar com as nádegas contra a minha pélvis. A visão do meu pénis a entrar e a sair daquele cu maravilhoso conjugada com a sensação da penetração estava a pôr-me doido. Levantei-me sem nos desligar, fi-la dobrar e apoiar as mãos no muro continuando a penetrá-la. Agora era eu que conduzia a situação. Agarrava-a pelas ancas e penetrava-a até ao fundo, já sem qualquer cuidado. Só me apetecia “rebentá-la”. Ela masturbava-se em simultâneo o que a estava a deixar louca. Adorava vir-se a levar no cu. Quando me vim puxei-a para mim de tal forma que deu um pequeno grito, vindo-se quase em simultâneo. Este era um pequeno vicio em que eu a iniciei. Levei algum tempo e muita paciência mas resultou. Eva gostava mais de ser enrabada do que qualquer outra mulher que eu conhecesse. No entanto não era habitual começar por aí. Percebi porque é que tinha querido ser ela a conduzir a situação. Pareceu ler-me os pensamentos…

- Hoje estou na fase perigosa. Não me interessa ser mamã por muito interessante que seja o pai

- Entendo. Obrigado pelo elogio.

O frio da água da piscina foi revigorante para as minhas pernas que estavam a tremer. Nadámos um pouco e ficámos o resto da tarde a conversar banalidades.

28.11.06

Refúgio


Poucas vezes me deu tanto prazer percorrer a marginal como nesse dia. Tinha acabado de receber o meu novo carro, um “JAGUAR XK120” e devorava quilómetros a caminho do meu esconderijo. Além da casa de Lisboa, nas Janelas Verdes, tinha uma outra na Biscaia, a meio caminho entre Cascais e Sintra pela estrada que rodeava a Serra. Era um sitio perfeito. Das suas janelas via-se o Atlântico. Ficava “a jeito” tanto de Cascais como de Sintra e longe de Lisboa. O suficiente para ser absolutamente discreta. Nesse dia nem tive tempo de entrar na piscina, já ela vinha ao cimo do caminho lateral à casa. Chegou ao pé de mim, deu-me um beijo carinhoso na face…
- Aquilo é que é o teu carro novo? Podias ter escolhido outra cor. Parece um carro funerário.
- Querias que fosse vermelho? Sou uma pessoa discreta.
- Podia ser verde…
- Querida amiga, Jaguares verdes nascem como cogumelos. Quis uma cor diferente. Queres beber alguma coisa? Estou cheio de sede.
- Um gin. Entretanto vou-me trocar. Está-me a apetecer um mergulho.
- Quando vieres está pronto.
Estava dentro de água quando ela chegou. Parecia uma estrela de cinema a descer as escadas. Embora não fosse já uma garota, tinha um rosto perfeito, uma pele que ao longo dos anos em Portugal foi ficando dourada, cabelos completamente pretos e olhos verde-escuro. Talvez um pouco magra para a época mas eu adorava. Isso não a impedia de ostentar um peito maravilhoso. A recordação daqueles mamilos erectos ao mais pequeno contacto, ainda hoje me faz o sangue acelerar nas veias.
- Não está cá ninguém?
- Hoje é a folga da dna. Célia. Dispensei o marido também. Vamos jantar fora.
- Que bela ideia.
- Jantar fora?
- Não; Dispensares os empregados.
Dito isto tirou o roupão e mergulhou na piscina completamente nua. Que palerma que me senti de calções…

Menosprezei-a porque ainda não tinha emergido e já me tirava os meus. Emergiu com eles na mão e atirou-os para cima da relva.

- Não sabes que é má educação deixar uma senhora sentir-se descomposta?

Não tive tempo de responder porque já tinha mergulhado de novo. Emergiu à minha frente, enlaçou-me e beijou-me como só ela me sabia beijar. O contacto daquele corpo maravilhoso no meu provocou-me uma erecção imediata.

Ela sorriu e enlaçou-me as pernas á volta da cintura. O contacto com a sua vulva pôs-me ainda pior. Entrou quase instantaneamente como se tivesse vida própria. Encostei-a à parede da piscina e ficámos naquilo, só com a cabeça a entrar e a sair, a saborear a língua um do outro.

A certa altura, olhou-me nos olhos e disse:

- Vamos lá para fora! Hoje mando eu…

27.11.06

Introdução


Às vezes, sentado nesta poltrona por detrás da janela de onde se avista ainda uma nesga de Tejo, recordo… o tempo em que Lisboa era mais igual a si mesma. Essa Lisboa que tinha passado pela guerra sem perder a compostura. Na verdade, acho que até ficou mais interessante nessa altura. Ao servir de plataforma para o exílio dos refugiados de uma Europa em guerra, bem como de “campo de jogos” da espionagem mundial, Lisboa tornou-se cosmopolita, absorveu novos costumes, novas liberdades, novas maneiras de ser, estar e pensar. Nunca mais seria a mesma. Ao contrário do cidadão comum, a sociedade Lisboeta fervilhava, embora “com a panela tapada” para não dar muito nas vistas. Era o tempo em que tudo era permitido desde que não se soubesse. Os espiões já se tinham ido, muitos dos refugiados também, excepto aqueles que preferiram o Sol de Portugal à Europa do pós-guerra. A vida era feita entre a cidade e Cascais, com passagem obrigatória pelo Casino.

Para alguém como eu era o paraíso. Uma fortuna confortável, ninguém a quem prestar contas, toda a disponibilidade do mundo, e uma mente aberta. A combinação certa para tornar mais interessante a minha vida e a de pessoas descontentes com as delas.

São algumas dessas vivências que vou partilhar aqui.